sábado, 8 de setembro de 2007

Liberais e Conservadores nos EUA

Aproveito o "post" sobre as eleições nos EUA para falar um pouquinho sobre a "direita" e a "esquerda" nos EUA. Os chamados "liberais" formam a ala mais à esquerda no espectro político americano. Andaram meio esquecidos nos últimos 20(?) anos e agora, depois do caos do governo Bushinho, parecem estar emergindo das cinzas (ou da tumba, quem sabe?).


Para os nossos padrões, e para os europeus, os "liberais" americanos estão muito mais à direita do que a maioria dos nossos políticos de "centro".


E por que esta possível guinada para a "esquerda" nos EUA?
It´s the economy, dummy!
1) A economia americana está indo pro brejo (vide "post" sobre eleições). Americano não aluga casa, compra. No "boom" imobiliário dos últimos anos muita gente comprou casas novas (a preços altíssimos) com hipotecas a taxas de juros flutuantes. Os juros baixíssimos subiram e eis a crise. Outros tiveram a brilhante idéia de refinanciar suas casas, tomando uma segunda hipoteca, e usando o dinheiro para consumo imediato. Com a subida do juros, catástrofe. Isso é impensável para nós brasileiros, que achamos "baratinho" financiar carro em 36 meses com taxa de juros de 2% ao mês, mas o fato é que os americanos vivem de crédito, e se os juros sobem, a vida deles se torna o inferno na terra.


2) As promessas republicanas (leia-se, da "direita") de corte de impostos na prática significaram muito pouco para a maioria das pessoas. A renúncia fiscal do governo foi enorme, mas sabe quem ela beneficiou? Os muito ricos. O impacto dos cortes em impostos sobre a classe média foi pratciamente nulo, e agora o troco vai ser dado nas urnas.

Aliás, isso é democracia.
O governo nos representa - se ele deixa de nos representar, mais cedo ou mais tarde, leva o troco. Que bom seria se nós brasileiros tivéssemos senso de cidadania suficiente para entender isso.


3) A rede de proteção social foi paulatinamente desmontada. Os EUA nunca foram um welfare state com os países escandinavos (ou, em menor escala, França, Inglaterra e Canadá). No entanto, mesmo para os padrões americanos, a rede de proteção agora é insuficiente - o número de americanos sem seguro saúde aumenta a cada ano, o número de famílias vivendo na pobreza também, e na iminência de uma recessão as pessoas se tornam cada vez mais preocupadas com a existência de garantias mínimas de bem estar. Uma mudança para um governo democrata significaria um aumento de despesas com saúde, educação e previdência públicas e a paulatina reconstrução da rede de proteção social.


As três razões acima são, obviamente, econômicas. A próxima não é.


4) O americano médio se cansou do discurso social conservador. O governo Bushinho desde sempre se aliou aos setores mais conservadores da sociedade americana, defendendo a educação religiosa nas escolas públicas, tentando revogar a lei do aborto, pregando a "teoria" creacionista (leia-se Adão e Eva são ciência e não religião...) e outras coisinhas mimosas. Isso não necessariamente representa os desejos da grande maioria do povo americano. Os novos candidatos republicanos têm aparecido com um discurso social bem mais "light". Na verdade, o ícone do conservadorismo americano, Reagan, que fez o revival da onda conservadora a partir dos anos 80, poderia ser descrito como tudo, mas é difícil imaginar um ex-canastrão de Hollywood defendendo abertamente a revogação do aborto.

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