quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Sobre fórmulas, dados, padrões e o Big Brother nas nossas vidas

O século XXI parece ser o paraíso dos estatísticos (e dos "torturadores de dados" sob as mais diversas denominações).

Você provavelmente não se deu conta, mas todos os seus dados estão por aí, esperando para ser analisados, processados e "devolvidos" (não necessariamente prá você). Se você der azar, caem nas mãos erradas e aí, só fazendo promessa ao seu Santo favorito prá ter sua paz de espírito de volta. Mas, vamos esquecer os "hackers" e pensar no lado positivo de tudo isso, embora a nossa vida seja dominada por uma infinidade de "Big Brothers", públicos e privados.

Um exemplo bem simples - talvez você faça compras no mesmo supermercado que eu, e receba por e-mail uma lista de ofertas semanais. E não é que as ofertas parecem ter sido feitas prá você? E foram mesmo! No meu caso, você pode apostar que eu vou ficar sabendo de todas as promoções de vinhos, chocolates, massas italianas, queijos variados. Arroz, feijão? O que é isso? Nunca me são oferecidos, por um motivo óbvio - eu não compro arroz com feijão.

E os malditos cartões de crédito? Para o bem e para o mal, sua vidinha privada é toda monitorada. E absurdos acontecem (e como!). Num dia, fiz uma compra numa farmácia. No dia seguinte, lá estou eu noutra farmácia, comprando uns 50 reais. Adivinhem? O cartão não passou (juro que tinha pago a conta, viu, gente?). Dois dias depois, uma simpática e ineficiente senhorita da empresa de cartões me liga me avisando que, para a minha proteção, minha compra caríssima de 50 reais não tinha sido aprovada, já que eu tinha comprado numa farmácia na véspera. Aí ela recebeu a pergunta que não quer calar até hoje: "quer dizer que eu não posso comprar dois dias seguidos em farmácias diferentes"?

Estou até agora esperando a resposta, pois o gravador automático com sotaque de Uberlândia continua me dizendo que "para a sua segurança, senhora, sua transação foi cancelada."

Mas, nem tudo está perdido no quesito "cartões de crédito": estava eu detonando meu cartão fora do Brasil e ring, ring, ring.... eis meu celular. Era a empresa, ligando para saber se era eu mesma num momento de loucura ou alguma clone tentando me levar à falência. Simpático, e o "rombo" foi aprovado na mesma hora. O problema é que, com as minhas inúmeras viagens, eu faço qualquer programa de reconhecimento de padrões ficar doidinho. Ou seja, o computador diz: hoje ela está aqui, amanhã ali, depois de amanhã, acolá, e haja terabytes de informação.

Um livro lançado recentemente (que eu ainda não li, mas está fazendo o maior sucesso na matriz) é: Super Crunchers: Why Thinking-by-Numbers Is the New Way to Be Smart .

A idéia central do livro é descobrir relações "inesperadas" ou "escondidas" entre variáveis a partir de enormes bases de dados, como as que as empresas usualmente guardam hoje em dia.
Por exemplo, uma olhadinha nos meus padrões de consumo vai revelar que eu gasto muito dinheiro em restaurantes e pouco dinheiro em roupas no Brasil (mas alguma grana em roupas quando viajo). Qual será a relação? Os tamanhos brasileiros não me cabem! Se alguém for me oferecer um brinde, o que será que vai fazer mais sucesso? Uma garrafa de vinho ou um biquini fio dental?

E a coisa não pára por aí - existem empresas tentando identificar padrões de "sucesso" em filmes e músicas. E são zilhões de variáveis, mas acredito que seja perfeitamente possível identificar alguns padrões relevantes que diferenciem um "hit" de um "flop". O único ponto que me incomoda nesta análise é: estes padrões podem ser mutáveis ao longo do tempo. A empresa que afirma poder identificar as características estruturais de uma música vencedora decompõe a batida, o ritmo, e tudo o mais que caracteriza a música, comparando-a com as que já foram sucessos. O que eu não sei como eles resolvem é - será que em alguns períodos algumas dessas características foram mais importantes que outras. Por exemplo, será que na década de 70 (e estou "chutando") a "batida" não era a característica primordial para definir um sucesso?
A questão é: acostumem-se. Big Brother está aí para ficar, e o lado positivo é que não vão tentar vender comida de gato prá quem tem cachorro (e vice-versa) ...

O outro lado BEM positivo é que eu acho que tenho emprego garantido por mais algum tempo...

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