quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Vergonha!

O título não poderia ser mais sucinto, e a não ser que você tenha acordado agora, já deve saber do que se trata: a absolvição de Renan no Senado.

O circo começa com a tentativa de impedir os deputados de assistir a sessão secreta do Senado, que descambou para cenas de pugilato explícito, mostrando a quantas anda o decoro parlamentar nas duas casas do Legislativo. Aliás, ponto para o STF mais uma vez, que vem subindo no conceito do que resta da chamada "opinião pública" brasileira. O Supremo acatou o mandado de segurança impetrado pelos deputados, permitindo que 13 deles participassem da sessão secreta do Senado.

O texto a seguir, retirado do blog do Noblat, comenta a decisão do STF.

STF decide se mantém decisão que beneficiou deputados

Começou há pouco sessão do Supremo Tribunal Federal. O ministro Ricardo Lewandowski submete a julgamento dos seus pares o mandado de segurança que analisou durante a madrugada, permitindo a participação de 13 deputados na sessão do Senado que decide o destino de Renan Calheiros (PMDB-AL).

O ministro fez questão de explicar seu voto. Disse que, no silêncio de seu gabinete, conversando com sua consciência, meditou bastante sobre o assunto. Pensou em negar o pedido, já que o regimento interno do Senado não autoriza a presença de deputados em sessões. Depois, contou ele, percebeu que o pedido ia além do texto frio do regimento.

Tratava-se, segundo ele, de fundamentos de ordem constitucional: publicidade e pleno exercício do mandato dos parlamentares. Por isso, o voto convicto: "Não abri a sessão secreta a pessoas estranhas ao Congresso Nacional".

Lewandowski repetiu que não transformou a sessão em pública porque, aí sim, estaria violando o dispositivo do regimento interno do Senado. "Não me atrevi a tanto", comentou.

Ou seja, o ministro Lewandowski conseguiu ver algo além do simples regimento interno do Senado, e pesar o impacto que tal sessão "às escondidas" teria sobre a credibilidade do Legislativo.

A esperança dos governistas e aliados de Renan é que a absolvição encerre o período de marasmo em que se encontra o Senado. Comentaristas políticos acham isso pouco provável, e argumentam que a crise que se resolveu parcialmente hoje (restam outros processos contra Renan no Conselho de Ética) desgastou o Senado e o governo, tornando o diálogo com a oposição ainda mais difícil. Enfim, o próprio governo pode acabar deixando o Renan se enforcar sozinho, quem sabe numa saída mais ou menos elegante, como um pedido de licença ou algo parecido?

O fato é que os políticos choram diante das câmeras, reclamando de um pré-julgamento pela imprensa, e do fato de estarem sendo "crucificados" pela opinião pública...

Mas que opinião pública é esta? É aquela que paga os impostos, tem cada dia menos dinheiro no bolso, se sente acuada com a insegurança das grandes cidades e com a perspectiva de menos emprego (e piores empregos, se eles existirem). A "opinião pública" é a voz esquecida da classe esquecida, a classe média - aquela que um dia sonhou com ascensão, e ao olhar em volta só vê o buraco, cada vez mais fundo.

No entanto, eu não vou ficar aqui fazendo um discurso Udenista (não é nem da minha época, viu?), mas só gostaria de levantar uma bola: se os nossos políticos são tão Renans, Collors, Malufs, Roberto Jeffersons, Clodovis, será que eles não nos espelham?

Marketing é tudo, vende qualquer coisa, até ar refrigerado para esquimó, mas será que, no fundo, nós não temos os políticos que merecemos?

Sem dúvida, existem coisas fundamentalmente erradas no nosso Legislativo - a gente vota em alguém e o fulano leva meia dúzia de 10 ou 20 junto, e a gente nem sabe quem são os outros. Além disso, o Clodovil e o Maluf tiveram que "ralar" muito para se eleger em SP. Se Clô tivesse sido mais esperto, era só se candidatar no Acre - aposto que se metade das "bibas" de Rio Branco tivessem votado nele, se elegia fácil, e olha que não deve ter tanta "biba" em Rio Branco assim... A questão é, você elege um deputado no Acre, ou no Amapá, ou em algum lugar lá no Norte, com muito menos voto que aqui no Sudeste.

Então, queridos, o meu, o seu, o nosso voto carioca, paulista, mineiro, gaúcho, baiano VALE MENOS! Considere então os programas de ação social do governo. Onde estão distribuídos? Norte e Nordeste. E, na democracia, uma cabeça é igual a um voto. Logo, em quem a "tchurma" lá do bolsa família vai votar: no Coronel Lula e em quem ele mandar, no caso os aliados do PMDB, o partido mais espalhado pelo Brasil afora. E sabe quando essa turma vai sair do poder? NUNCA! Talvez, para diminuir a revolta da "classe esquecida", venha aí antes das próximas eleições para presidente um pacotinho de bondades para satisfazer a classe média, e talvez antes disso decidam lançar um ou dois "negos" na fogueira, para satisfazer a tal da opinião pública. Mas, lamento dizer, N-A-D-A, N-A-D-I-N-H-A mesmo vai mudar, até que nóizinho aqui do Centro-Sul consigamos maior representatividade no Congresso (embora, cá entre nós, tanto a bancada de SP quanto a do Rio sejam de doer...)

Vocês vão dizer que hoje eu estou de mau humor, acho que estou mesmo, também pudera!

Um pouco menos de mau-humor, e bem mais sucinto (e bem escrito) está o blog de José Marcio Almeida Mendonça, no Estadão. Vide abaixo.

O Senado, o Legislativo

por José Marcio Mendonça, Seção: Política 18:40:41.

Antes que tivesse tempo de me preparar para comentar a escandalosa absolvição do senador Renan Calheiros por seus pares no Senado, alguns companheiros de blog deram aqui, em comentários à nota anterior, o tom da reação da sociedade: vergonha, decepção.

Não há muita coisa a dizer neste primeiro momento a não ser com tais adjetivos e com uma conclusão: foi um dia tenebroso para o Senado e a política brasileira. Não há risco: dias melhores não virão.

Para consolo, se há algum nesta hora, quem puder leia uma crônica de Machado de Assis intitulada "O Velho Senado". Pelo menos poderemos nos reconciliar com a beleza e a precisão no uso da língua e conhecer um outro tempo da política brasileira que, tudo indica, foi menos terrificante que o atual.

Num dos comentários que fiz hoje na Rádio Eldorado disse que o Senado estava numa encruzilhada: ou fazia história ou caía de vez no ramerrão da politiquice, do jogo de interesses partidários e pessoais. A maioria fez a opção que achou mais digna.Todos vão pagar, os inocentes e os pecadores. A política brasileira neste 12 de setembro ficou um pouco menor do que já era. Se isto é possível.

Como só o que nos resta é rir, aí vai....




Um comentário:

Claudia Luzardo disse...

Vergonha, sim, que traduz falta de ética e principalmente roubalheira, pois é evidente que TODOS lá estão comprometidos, e que o mote deve ter sido: "If I fall, you fall", CHANTAGEM, pura Chantagem.Prêmio óleo de Peroba pra Renan.
Ana Claudia