quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Mas, o que é mesmo que eu acho que é luxo?

O que é luxo prá mim?

Vocês já viram dois "posts" com títulos contendo a palavrinha mágica. A minha concepção de luxo é aquela possível para a classe média - nada de Learjets nem helicópteros, nem ilhas paradisíacas no Caribe ou no Índico. Nada de relógios que custam mais do que eu ganharei em toda a minha vida e (infelizmente, para uma apaixonada por quatro rodas como eu), nada de carros que custam mais que um apartamento de dois quartos na zona sul do Rio.

Mas, o que todos nós parecemos valorizar e considerar um LUXO é PRIVACIDADE. E, ela custa dinheiro - quanto maior, mais dinheiro. Para fugir das hordas, só fazendo gazeta, como eu fiz, e teremos a agradável lembrança de um mundo com menos gente e, sem dúvida alguma, muito menos vulgaridade, mas isso é assunto prá depois.

Hoje eu estava pensando: num mundo com tanta gente, pareceria natural que o espaço privado se valorizasse, e a impressão que eu tenho é que o exato oposto acontece. As pessoas parecem gostar de andar em bandos, estar onde todos estão, fazer o que todos fazem. Hoje saiu no jornal o preço dos ingressos do show do The Police em dezembro no Maracanã. O mais barato, arquibancada, R$ 160,00. O mais caro, R$500,00, mais de US$ 250. Sabe quando é que eu vou pagar isso para estar com mais 70 mil pessoas no Maraca vendo a "reunion" de roqueiros velhos? Jamais! Podem dizer que é crise de meia idade, eu digo que prefiro gastar dinheiro com menos gente e mais conforto. R$ 500 compram duas noites de hospedagem (ou quase) num fim de semana fora do Rio!

Eu aqui falando de muita gente e acabo de ver na TV o lançamento do maior avião do mundo, o A380. Cabem 500 pessoas, e os aeroportos terão que ser adaptados para a chegada do monstrengo. Já imaginaram que delícia a poltrona do meio na classe "navio negreiro" num vôo de Tóquio ao Rio de Janeiro neste avião? E os lugares no vôo inaugural foram leiloados - há louco prá tudo! E qual a vantagem para o consumidor nesta estória? Em todas as matérias sobre o avião, não ouvi ou li nada sobre tarifas mais baratas. Aliás, nos EUA as companhias "low cost" já quiseram sugerir lugares em pé nos aviões. Decididamente faz a gente achar as barrinhas da Gol um L-U-X-O só!Imagina! Como diria uma amiga minha, HUMPFT!

Voltando ao assunto original, dei uma olhada no "site" do IBGE. Em 1980 éramos cerca de 119 milhões, em 2006, aproximadamente 186 milhões de habitantes. Mais de 50% de aumento! Não é sem razão que eu reclamo que existe tanta gente em volta, e tanta gente que não respeita o espaço de cada um. Pode ser uma coisa meio anglo-saxônica, mas brasileiro não sabe respeitar o espacinho "regulamentar" a que cada ser humano tem "direito", todo mundo aqui gosta de ficar grudadinho com você. Você pode estar parado na calçada esperando o sinal abrir e vem alguém e quase te encosta, e não é assaltante. Em outros lugares do mundo, só em Now York, a maior cidade tupiniquim do mundo, é que eu acho que isso acontece. No mundo civilizado, te olham feio. MAS SERÁ QUE AINDA EXISTE MUNDO CIVILIZADO? Nem na Suécia (enorme índice de suicídios!) e muito menos na Suíça, onde a extrema-direita acabou de ganhar as eleições!

Moral da história - realmente tem MUITA, MUITA gente nesse mundo, muito mais que nos meus 20 anos, e isso é o que me causa algum desconforto.

Somando-se a isso o fato do Brasil ser um país jovem, o desconforto aumenta. Aqui, a gente olha em volta e a grande maioria é mais nova que a gente, isso só nos faz perceber que a idade está passando, e depressa. Quando chegamos aos EUA e, melhor ainda, à Europa, é o paraíso dos quarentões. Uma parcela substancial da população é da nossa faixa etária ou, melhor ainda, mais velha. Ninguém olha prá gente como "meia idade", ao contrário, nós somos a parcela mais produtiva e mais influente da população, os "Reis da Cocada Preta", um L-U-X-O! A ditadura dos jovenzinhos é coisa de país emergente, ou como se dizia em tempos menos politicamente corretos, coisa de país subdesenvolvido mesmo!

Além do mais, o culto à juventude é uma característica tupiniquim, tão nossa como a goiabada e a jabuticaba e, as duas últimas provavelmente um L-U-X-O, devem fazer bem melhor à saúde.

Brasilll, o campeão da desigualdade social, e também do culto ao corpo, do culto à juventude, do hedonismo, das cesarianas (isso eu apoio!) e das plásticas e lipos. Será que estas coisas são um L-U-X-O?

Até que ponto, todos nós, para nos sobressairmos no meio da multidão, não fazemos apenas comprar, comprar e comprar, ter, ter e ter mais ainda, até não poder mais, numa compulsão irrefreável de consumo?

E o "ser", onde ficou?

Hoje em dia vejo adolescentes e universitários de classe média alta com mesadas muito maiores que o seu futuro primeiro salário. E eu me pergunto: e a motivação para trabalhar, qual vai ser? Não é à toa que só saem da casa do papai e da mamãe com 30 anos na cara, quando saem! Eu ganhava um salário mínimo e meio de mesada quando estava na faculdade, e não era diferente de 90% dos meus colegas, inclusive os bem mais ricos do que eu. A gente comia e bebia em casa antes de ir prá boite prá não gastar dinheiro, lá era uma vodka só, no máximo duas (tudo bem, a vodka era russa) pois era mais barato que whisky. Depois, só Coca-Cola. E a gente dançava de se acabar a noite inteira, eu saía do Hippo depois das 4 sempre!

OK, este último parágrafo está meio fora de contexto, mas serve para a gente pensar sobre alguns dos bons valores que a gente teve lá em meados do século XX e não andam muito na moda hoje em dia.

Voltando à pergunta original - o maior luxo prá mim é, sem dúvida, a privacidade. É poder olhar a natureza sem que ela esteja completamente devastada, é poder estar com os amigos, é ir a um restaurante legal, é bater papo, é tomar um bom vinho, é - principalmente - poder fazer tudo isso em lugares públicos em que as pessoas saibam se comportar e não transformem o seu momento de lazer numa chateação, com crianças insuportáveis correndo entre as mesas do restaurante, casais se chupando na mesa ao lado, bêbados gritando no seu ouvido, etc...

L-U-X-O, mas L-U-X-O mesmo, é a solidão.














Um comentário:

Unknown disse...

Finalmente...dei o ar da graça! Gostei muito, parece que estou te ouvindo falar. É isso mesmo, luxo é sonhar que o Rio poderia ser ainda como era na década de 70. Pouca gente e todo mundo conhecido...a gentalha ficava presa na zona norte...:-)))))
Bjs,
C