quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Crise Mundial I

A falta de tempo no fim de 2008 (na verdade, ao longo do ano inteiro) me impediu de postar no blog, e entramos 2009 como se não houvesse assunto.

E o GRANDE assunto, a meu ver, além da eleição do Obama, é a crise econômica que o Lula inicialmente chamou de "marolinha", e veremos ao longo deste ano como a economia brasileira se comporta neste novo contexto.

Assim, só me resta correr atrás do prejuízo e fazer um "corte e cola" do que já foi publicado por aí, para colocar a crise em perspectiva, e tentar mostrar o que os experts apontam como possíveis soluções.

De qualquer forma, se não servir para nada, fica como um bom registro para 2010 e 2011 para, em retrospecto, a gente ver o número de besteiras e acertos.

Começo com um corte e cola didático da Folha de São Paulo, de 13/12/2008. Não é meu jornal favorito, mas serve para os propósitos deste post inicial.

Não sendo pessimista como muita gente, FELIZ 2009!

Entenda a evolução da crise que atinge a economia dos EUA

da Folha Online

Bancos de diversos ramos nos Estados Unidos e em outros países, principalmente a Europa, já sofreram prejuízos bilionários e em alguns casos fecharam, desde agosto do ano passado. A partir de setembro deste ano, com a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, iniciou-se uma crise de confiança que travou o crédito e afetou outros setores da economia --em especial as que possuem vendas muito atreladas a financiamentos, como o automotivo.

A raiz do problema está no mercado de hipotecas norte-americano. O mercado imobiliário dos EUA passou por uma fase de expansão acelerada logo depois da crise das empresas "pontocom", em 2001. O Federal Reserve (Fed, o BC americano) passou a reduzir sua taxa de juros, a fim de baratear empréstimos e financiamentos e encorajar consumidores e empresas a voltarem a gastar.

O setor imobiliário se aproveitou desse momento de juros baixos: a demanda por imóveis cresceu, atraindo compradores. Em 2003, por exemplo, os juros do Fed chegaram a cair para 1% ao ano --menor taxa desde o fim dos anos 50.

Em 2005, o "boom" no mercado imobiliário já estava avançado; comprar uma casa (ou mais de uma) tornou-se um bom negócio, não só para quem queria adquirir a casa própria, mas também para quem procurava em que investir. Também cresceu a procura por novas hipotecas, a fim de usar o dinheiro do financiamento para quitar dívidas e consumir.

As companhias hipotecárias descobriram nessa época um nicho ainda a ser explorado no mercado: o de clientes do segmento "subprime", caracterizados, de modo geral, pela baixa renda, por vezes com histórico de inadimplência e com dificuldade de comprovar. O segmento "subprime", assim caracterizado, representa um risco maior de inadimplência que os de outras categorias de crédito. mas justamente por ser de maior risco, as taxas de retorno são bem mais altas.

A promessa de retornos altos atraiu gestores de fundos e bancos, que compraram esses títulos "subprime" das companhias hipotecárias e permitiram que uma nova quantia em dinheiro fosse emprestada, antes mesmo do primeiro empréstimo ser pago. Um outro gestor, interessado no alto retorno envolvido com esse tipo de papel, comprou o título adquirido pelo primeiro, e assim por diante, gerou uma cadeia de venda de títulos.

Porém, se a ponta (o tomador) não consegue pagar sua dívida inicial, ele dá início a um ciclo de não-recebimento por parte dos compradores dos títulos. O resultado: todo o mercado passa a ter medo de emprestar e comprar os "subprime", o que termina por gerar uma crise de liquidez (retração de crédito).

Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis, no entanto, passaram a cair. Os juros do Fed, que vinham subindo desde 2004, encareceram o crédito e afastaram compradores; com isso, a oferta começou a superar a demanda e, desde então, o que se viu foi uma espiral descendente no valor dos imóveis.

Com os juros altos, a inadimplência aumentou e o temor de novos calotes fez o crédito sofrer uma desaceleração expressiva no país como um todo. Sem oferta suficiente de crédito, a economia dos EUA desaqueceu. Com menos liquidez (dinheiro disponível), menos se compra, menos as empresas lucram e menos pessoas são contratadas.

No mundo da globalização financeira, créditos gerados nos EUA podem ser convertidos em ativos que vão render juros para investidores na Europa e outras partes do mundo. Por isso o pessimismo influencia os mercados globais e atinge tão profundamente a Europa.

Primeiros efeitos

Esse era o cenário quando o o BNP Paribas Investment Partners --divisão do banco francês BNP Paribas-- congelou, em agosto do ano passado, cerca de 2 bilhões de euros dos fundos Parvest Dynamic ABS, o BNP Paribas ABS Euribor e o BNP Paribas ABS Eonia. A alegação do banco era de preocupações sobre os pagamentos de crédito "subprime" nos EUA.

Diante dessa medida, o mercado imobiliário reagiu com pânico. Gigantes do setor hipotecário, como a AHM (American Home Mortgage), uma das 10 maiores empresas do setor de crédito imobiliário e hipotecas dos EUA, pediu concordata. A Countrywide Financial, outra gigante do setor, teve de ser comprada pelo Bank of America. Citigroup, UBS, Bear Stearns e outros grupos financeiros de escala global perderam bilhões com os papéis ligados a hipotecas "subprime".

Um ano depois

A crise, longe de perder fôlego, teve suas forças renovadas em setembro deste ano. As gigantes hipotecárias americanas Fannie Mae e Freddie Mac deram sinais de que poderiam quebrar. Com quase a metade dos US$ 12 trilhões em empréstimos para a habitação nos EUA em seus registros, o Departamento do Tesouro interveio para evitar o pior: anunciou uma ajuda de até US$ 200 bilhões.

O Lehman Brothers, no entanto, foi deixado à própria sorte: afetado pelas perdas com a crise dos "subprime", o banco viu malograrem tentativas de encontrar um comprador e de levantar fundos junto a outras instituições privadas para tocar suas operações financeiras. Mesmo o governo negou um empréstimo. No último dia 15, a solução encontrada pelo banco foi pedir concordata.

Ao fim do Lehman se seguiram a venda do Merrill Lynch ao Bank of America; a ajuda de US$ 85 bilhões à seguradora AIG, também sob risco de quebrar por falta de fontes de captação de empréstimos; a quebra do banco do segmento de empréstimos em poupança ("savings & loans") Washington Mutual (WaMu) --no que, segundo analistas, foi a maior falência de um banco nos Estados Unidos--; e a venda do Wachovia, quarto maior dos EUA, que anunciou a fusão com o Wells Fargo, em uma operação de US$ 15,1 bilhões em troca de ações.

Os problemas do Wachovia têm boa parte de sua origem na aquisição da companhia hipotecária Golden West Financial em 2006, por cerca de US$ 25 bilhões, quando o mercado imobiliário ainda estava em um momento de euforia. Com a compra, o Wachovia assumiu US$ 122 bilhões em hipotecas do tipo 'Pick-A-Payment', na qual a Golden West era especialista. Nessa modalidade, os mutuários tinham permissão para deixar de fazer alguns pagamentos.

Combate

Para combater a onda de quebradeira entre as instituições financeiras e acalmar o mercado, o Congresso dos EUA aprovou o plano de ajuda de US$ 700 bilhões. A aprovação coloca na mão do secretário do Tesouro, Henry Paulson, dinheiro para tentar reverter a crise que abala o mercado financeiro mundial.

O plano do governo americano é usar os US$ 700 bilhões para comprar um artigo conhecido por um nome pouco atraente: títulos "podres", ou papéis cujo resgate é muito improvável --conseqüentemente, cujo risco de calote é alto. A maioria destes ativos são ligados justamente às hipotecas "subprime" (de alto risco).

Antes de ser aprovada, a proposta de Bush foi bastante modificada pelos senadores e deputados. A versão incluiu no plano mais US$ 150 bilhões em corte de impostos, benefícios fiscais para a classe média, pequenos empresários e famílias atingidas por acidentes naturais. Além disso, o pacote limita os poderes do Executivo para gerir o pacote, estreita a vigilância sobre a aplicação dos recursos e reduz os pagamentos milionários aos grandes executivos por trás das instituições financeiras que quebraram.

Porém, a esta altura a falta de confiança vista no financiamento imobiliário "contaminou" todo o segmento de crédito. Todos os setores da economia nos Estados Unidos passaram a reduzir suas vendas porque o consumidor médio americano, que é dependente de crédito para ir às compras, deixou de consumir.

Essa restrição ao crédito é, por enquanto, o principal meio de contágio da crise nos Estados Unidos para o resto do mundo. No Brasil, por exemplo, o crédito também apertou, pois faltou liquidez em dólares e as grandes empresas locais, que antes tomavam recursos no exterior, teve que se voltar ao crédito interno.

Montadoras

A crise foi especialmente ruim para as montadoras. Elas já vinham fragilizadas economicamente porque possui um sistema de aposentadoria para seus funcionários, montado na década de 1970, considerada hoje "impagável" pelas empresas --há atualmente 10 aposentados sustentados pelas "Big 3 de Detroit" (Ford, GM e Chrysler) para cada funcionário na ativa. A crise complicou definitivamente suas situações, pois as vendas despencaram, tanto por medo de consumir do americano como pela falta de crédito.

Devido a essa situação, as três grandes montadoras partem hoje para um pedido de socorro ao governo americano. Porém, ainda não há consenso se o governo deve ou não ajuda-las. No último acordo fechado, da qual as elas receberiam US$ 14 bilhões, o Congresso aprovou mas o Senado não. As negociações sobre a ajuda ao setor continuam.

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